domingo, 1 de junho de 2014

Homo Sapiens


                 “Homo Sapiens” happening in 1977. Pimenta occupies a cage in the chimpanzee row in the Lisbon Zoo.

Alberto Pimenta esteve "exposto" no dia 31 de Julho de 1977 entre as 16 e as 18 horas,numa jaula do Palácio dos Chimpanzés do Jardim Zoológico, gravando os comentários que se iam ouvindo.
Vox Populi:
"(...)
– Ó pá, anda cá ver isto! Aqui o macaco é um homem.
– Ó pá, isto é um festival do caraças. Vamos embora, que isto é para nos tramar.
– Já me estão a lixar, o gajo está ali a fazer a caricatura da malta.
– Tem cara de parvo, deve ser anormal.
– Tem um tipo esquisito.
– Se calhar é tarado sexual. – Não, ele é racional. – Mas não fala.
– Vamos mas é embora daqui.
– Ele é português? – Deve ser estrangeiro.
– Ele que ali está, é porque alguma fez.
– Ai que impressão isto faz, na quarta-feira ainda não estava cá nada.
– Ainda há bocado cá passei e quem estava era o gorila.
– Não percebo o que ele quer! Que é que quer dizer «homo sapiens»?
– Então, é uma espécie de macaco. É um animal como os outros.
– Pois, ele parece um homem em tudo... está vestido.
– Então havia de estar nu? – Sei lá!
– É um reclame qualquer, é só um reclame.
– É um homem, mas deve ser uma espécie rara.
– Isto não havia antes. São estes tempos, anda tudo maluco.
– Eu tenho a impressão que é um homem normal.
– Não, normal não pode ser, senão não estava ali. É maluco, anda à solta.
– Ou tarado sexual.
– Ora, isto é tudo preparado.
– Ele que está ali tem que ter um significado.
– Então, é uma ideia nova.
– Quem vai reagir mal são os católicos: isto quer dizer que o homem descende do macaco.
– O raio do homem é muito habilitado a estas coisas, mas não há-de ser mais nada.
– Que horror isto!
– O aspecto dele é que me confunde. Se tivesse ar andrajoso, ainda estava bem. Mas assim...
– Já há portugueses enjaulados? Já não servem as cadeias?
– Ele não é português.
– Isto deve ter um mistério qualquer.
– Devem-lhe ter pago, ou então gosta. – Está ali, está a ganhar bem.
– Na minha, ele fez alguma coisa.
– Se ele fala, por que é que não diz por que é que está ali?
– Então, a gente diverte-se a olhar para ele, e ele diverte-se a olhar para a gente.
– Como é que é permitido isto é que a gente não percebe.
– É uma vergonha para o país.
– Ele é estrangeiro.
– Por que é que não fax isto na terra dele? (...)"

domingo, 25 de maio de 2014

XXV - As bolas de sabão que esta criança


Filme: Delicatessen

As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,

Amigas dos olhos como as coisas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas são mais do que parecem ser.

Algumas mal se vêem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer coisa se aligeira em nós
E aceita tudo mais nitidamente.

Alberto Caeiro








As palavras que te envio são interditas

Van Gogh

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma  regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 7 de maio de 2014

então queres ser um escritor?





se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.

se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.

se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.

não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-
— devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.

quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.

não há outra alternativa.

e nunca houve.

Charles Bukowski

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Breviário de Decomposição




«Mas ele é o tagarela do universo; fala em nome dos outros; seu eu ama o plural; o que fala em nome dos outros é um impostor. Políticos, reformadores e todos os que reivindicam um pretexto coletivo são trapaceiros. Só a mentira do artista não é total, pois só inventa a si mesmo. (…) O plural implícito de “se” e o plural confessado do “nós” constituem o refúgio confortável da existência falsa. Só o poeta assume a responsabilidade do “eu”, só ele fala em seu próprio nome, só ele tem o direito de fazê-lo. A poesia se degrada quando torna-se permeável à profecia ou à doutrina: a “missão” sufoca o canto, a ideia entrava o vôo. O lado “generoso” de Shelley torna caduca a maior parte de sua obra: Shakespeare, felizmente, nunca “serviu” para nada. (…)
O triunfo da não-autenticidade tem seu acabamento na atividade filosófica, esta complacência no “se”, e na atividade profética (religiosa, moral ou política), esta apoteose do “nós”. A definição é a mentira do espírito abstrato; a fórmula inspirada, a mentira do espírito militante: uma definição encontra-se sempre na origem de um templo; uma fórmula reúne inelutavelmente os fiéis. Assim começam todos os ensinamentos.
Como não se voltar então para a poesia? Ela tem – como a vida – a desculpa de não provar nada.» 

Emil Cioran

O actor acende a boca. Depois, os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor põe e tira a cabeça
de búfalo.
De veado.
De rinoceronte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente
como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.
Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela.
Bocado janela para fora.
Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo
ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado.

O que rutila, o que arde destacadamente
na noite, é o actor, com
uma voz pura monotonamente batida
pela solidão universal.

O espantoso actor que tira e coloca
e retira
o adjectivo da coisa, a subtileza
da forma,
e precipita a verdade.
De um lado extrai a maçã com sua
divagação de maçã.
Fabrica peixes mergulhados na própria
labareda de peixes.
Porque o actor está como a maçã.
O actor é um peixe.

Sorri assim o actor contra a face de Deus.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus,
e dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.
Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra
à confusão dessa palavra.
Receita o livro. Amplifica o livro.
O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.
O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente
como o actor.
Como a unidade do actor.

O actor é um advérbio que ramificou
de um substantivo.
E o substantivo retorna e gira,
e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente
do Nome.
Nome que se murmura em si, e agita,
e enlouquece.
O actor é o grande Nome cheio de holofotes.
O nome que cega.
Que sangra.
Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo,
enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.

Porque o talento é transformação.
O actor transforma a própria acção
da transformação.
Solidifica-se. Gaseifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto.
Faz crescer o acto.
O actor actifica-se.
É enorme o actor com sua ossada de base,
com suas tantas janelas,
as ruas -
o actor com a emotiva publicidade.

Ninguém ama tão publicamente como o actor.
Como o secreto actor.

Em estado de graça. Em compacto
estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela.
Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento
de onde brota a pantomima.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama.
Vê a cobra entre as pernas.
O actor vê fulminantemente
como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.

O actor em estado geral de graça.
.
Herberto Helder

terça-feira, 25 de março de 2014

Carta ao poeta Eugénio Evtushenko a propósito de uma suposta autocrítica



Não te arrependas de nada.
Um verso está sempre certo
mesmo quando errado. A verdade
também, mesmo quando dói

ou fere ou parece inoportuna.
A verdade nunca é inoportuna.
O teu inconformismo é o preço
da nossa libertação e teus versos

florescem no coração do povo.
Não. Não te arrependas de nada.
Não torças o verso, não obrigues
a palavra: um poeta está

sempre certo. Não permitas que o óxido
dos políticos entre na lâmina
dos teus versos. Um poeta não se vende,
não se compra, não se emenda.

A um poeta corta-se-lhe a cabeça.
E uma cabeça cortada não dói, mas
tem uma importância danada.


Rui Knopfli

domingo, 23 de março de 2014

PESSOA REVISITED


Esta noite encontro-te, poeta.

Esta noite, que não é antiquíssima,

Nem idêntica por dentro

Ao silêncio,

Sendo apenas o lúcido abismo

Da minha insônia,

Sigo da margem

Ao rio dos teus versos.

Alguma vez todos os poetas

Se encontraram contigo.

Mesmo os menores como eu

Ou o meu vizinho do lado,

Que é contabilista, não faz versos

E arrepela violino nas horas de lazer.

Esta noite olho e penso

Os versos reacionários,

Em que reinventaste o sentido das palavras

E te negavas.

Negavas-te na irônica contradição

Dos conceitos escalpelizados

E até

Na matemática escorreita da correspondência comercial,

Com o mesmo à vontade

Com que um Einstein especula com espaços interestelares

E a diurna e esquisita noite galáctica.

O teu gênio desmedido

Frustrava em ti

O burocrata para uso externo.

E rias, alto

Como um insulto amargo,

Por detrás

Do Álvaro de Campos snob,

Ou oculto

Na frieza geométrica e longínqua

Do Ricardo Reis.

Cerebrais, frios, são,

Dizem,

Os teus versos.

São-no como quem fala, lenta,

Pausadamente,

Dissimulando na garganta o nó da angústia.

Diante

Da alheia ignorância do tempo absurdo,

Com a miopia e o bigode estreito

Do manga de alpaca a fingir cabotismos,

Habitavam

O gênio e a náusea.

Com o gesto banal e repetido de quem

Acende o cigarro

Abriste as portas do espanto

E fizeste acreditar que eram as da dispensa.

Por isso

Hoje nos limitamos a entrar,

Por isso dormimos hoje com a cabeça

Nos teus versos,

Falamos com ar despreocupado

No Pessoa, à hora do café

E visitamos-te com secreta religiosidade.

Agora que tu te foste,

Sem que déssemos por tal,

Desapercebido, caminhando nos bicos dos pés,

Como o fazias em vida,

Em vão te buscamos,

Em vão rezam por ti compridas laudas

Em jornais a ressumar cultura,

Em vão te imitamos,

Em vão a estridência do nosso arrependimento.

Lá onde moras não há som

E nem sequer te incomodam no leito

As duras pedras e a terra úmida das raízes.

No dia 30 de Novembro de 1935

Aqui fazia sol

E eu, na beira do passeio,

Via passar os elétricos sem os entender

E resumia o sonho à nitidez gulosa

Do pão com manteiga,

Sentado a milhares de quilômetros da tua morte.

Perdoai pois se não fui

Ao teu enterro anônimo.

Rui Knopfli (1932)

domingo, 16 de março de 2014

Poesia:


“words set to music” (Dante
via Pound), “uma viagem ao
desconhecido” (Maiakóvski), “cernes
e medulas” (Ezra Pound), “a fala do
infalável” (Goethe), “linguagem
voltada para a sua própria
materialidade” (Jakobson),
“permanente hesitação entre som e
sentido” (Paul Valery), “fundação do
ser mediante a palavra” (Heidegger),
“a religião original da humanidade”
(Novalis), “as melhores palavras na
melhor ordem” (Coleridge), “emoção
relembrada na tranquilidade”
(Wordsworth), “ciência e paixão”
(Alfred de Vigny), “se faz com
palavras, não com ideias” (Mallarmé),
“música que se faz com ideias”
(Ricardo Reis/Fernando Pessoa), “um
fingimento deveras” (Fernando
Pessoa), “criticismo of life” (Mathew
Arnold), “palavra-coisa” (Sartre),
“linguagem em estado de pureza
selvagem” (Octavio Paz), “poetry is to
inspire” (Bob Dylan), “design de
linguagem” (Décio Pignatari), “lo
impossible hecho possible” (Garcia
Lorca), “aquilo que se perde na
tradução (Robert Frost), “a liberdade
da minha linguagem” (Paulo Leminski)…



Paulo Leminski

AUTO-RETRATO


De português tenho a nostalgia lírica
de coisas passadistas, de uma infância
amortalhada entre loucos girassóis e folguedos;
a ardência árabe dos olhos, o pendor
para os extremos: da lágrima pronta
à incandescência súbita das palavras contundentes
do riso claro à angústia mais amarga.


De português, a costela macabra, a alma
enquistada de fado, resistente a todas
as ablações de ordem cultural e o saber
que o tinto, melhor que o branco,
há-de atestar a taça na ortodoxia
de certas virtualhas de consistência e paladar telúrico.

De português, o olhinho malandro, concupiscente
e plurirracional, lesto na mirada ao seio
entrevisto, à nesga da perna, à fímbria da nádega;
a resposta certeira e lépida a dardejar nos lábios,
o prazer saboroso e enternecido da má-língua.

De suiço tenho, herdados de meu bisavô,
um relógio de bolso antigo e um vago, estranho nome.


Rui Knopfli

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Ah, quero as relvas e as crianças!



                      Joan Miró

Ah, quero as relvas e as crianças!
Quero o coreto com a banda!
Quero os brinquedos e as danças —
A corda com que a alma anda.
Quero ver todas brincar
Num jardim onde se passa,
Para ver se posso achar
Onde está minha desgraça.
Ah, mas minha desgraça está
Em eu poder querer isto —
Poder desejar o que há.
[...]
  
Fernando Pessoa

Amei-te e por te amar

Amei-te e por te amar
Só a ti eu não via...
Eras o céu e o mar,
Eras a noite e o dia...
Só quando te perdi
É que eu te conheci...


Quando te tinha diante
Do meu olhar submerso
Não eras minha amante...
Eras o Universo...
Agora que te não tenho,
És só do teu tamanho.


Estavas-me longe na alma,
Por isso eu não te via...
Presença em mim tão calma,
Que eu a não sentia.
Só quando meu ser te perdeu
Vi que não eras eu.


Não sei o que eras. Creio
Que o meu modo de olhar,
Meu sentir meu anseio
Meu jeito de pensar...
Eras minha alma, fora
Do Lugar e da Hora...


Hoje eu busco-te e choro
Por te poder achar
Não sequer te memoro
Como te tive a amar...
Nem foste um sonho meu...
Porque te choro eu?


Não sei... Perdi-te, e és hoje
Real no [...] real...
Como a hora que foge,
Foges e tudo é igual
A si-próprio e é tão triste
O que vejo que existe.


Em que és [...] fictício,
Em que tempo parado
Foste o (...) cilício
Que quando em fé fechado
Não sentia e hoje sinto
Que acordo e não me minto...


[...] tuas mãos, contudo,
Sinto nas minhas mãos,
Nosso olhar fixo e mudo
Quantos momentos vãos
Pra além de nós viveu
Nem nosso, teu ou meu...


Quantas vezes sentimos
Alma nosso contacto
Quantas vezes seguimos
Pelo caminho abstracto
Que vai entre alma e alma…
Horas de inquieta calma!


E hoje pergunto em mim
Quem foi que amei, beijei
Com quem perdi o fim
Aos sonhos que sonhei…
Procuro-te e nem vejo
O meu próprio desejo…


Que foi real em nós?
Que houve em nós de sonho?
De que Nós fomos de que voz
O duplo eco risonho
Que unidade tivemos?
O que foi que perdemos?


Nós não sonhámos. Eras
Real e eu era real.
Tuas mãos — tão sinceras…
Meu gesto — tão leal...
Tu e eu lado a lado...
Isto... e isto acabado...


Como houve em nós amor
E deixou de o haver?
Sei que hoje é vaga dor
O que era então prazer...
Mas não sei que passou
Por nós e acordou...


Amámo-nos deveras?
Amamo-nos ainda?
Se penso vejo que eras
A mesma que és... E finda
Tudo o que foi o amor;
Assim quase sem dor.


Sem dor... Um pasmo vago
De ter havido amar...
Quase que me embriago
De mal poder pensar...
O que mudou e onde?
O que é que em nós se esconde?


Talvez sintas como eu
E não saibas senti-lo...
Ser é ser nosso véu
Amar é encobri-lo,
Hoje que te deixei
É que sei que te amei...


Somos a nossa bruma…
É pra dentro que vemos...
Caem-nos uma a uma
As compreensões que temos
E ficamos no frio
Do Universo vazio...



                              Rudolf Nureyev

Que importa? Se o que foi
Entre nós foi amor,
Se por te amar me dói
Já não te amar, e a dor
Tem um íntimo sentido,
Nada será perdido...


E além de nós, no Agora
Que não nos tem por véus
Viveremos a Hora
Virados para Deus
E n'um (...) mudo
Compreenderemos tudo.


Fernando Pessoa



O amor lança fora o medo

Photo: Toshiko Okanoue "O amor lança fora o medo; mas, inversamente, o medo lança fora o amor. E não só o amor. O medo também expulsa a...