Li hoje quase duas páginas
Do livro dum poeta místico,
E ri como quem tem chorado muito.
Os poetas místicos são filósofos doentes,
E os filósofos são homens doidos.
Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem
E dizem que as pedras têm alma
E que os rios têm êxtases ao luar.
Mas as flores, se sentissem, não eram flores,
Eram gente;
E se as pedras tivessem alma, eram coisas vivas, não eram pedras;
E se os rios tivessem êxtases ao luar,
Os rios seriam homens doentes.
É preciso não saber o que são flores e pedras e rios
Para falar dos sentimentos deles.
Falar da alma das pedras, das flores, dos rios,
É falar de si próprio e dos seus falsos pensamentos.
Graças a Deus que as pedras são só pedras,
E que os rios não são senão rios,
E que as flores são apenas flores.
Por mim, escrevo a prosa dos meus versos
E fico contente,
Porque sei que compreendo a Natureza por fora;
E não a compreendo por dentro
Porque a Natureza não tem dentro;
Senão não era a Natureza.
Alberto Caeiro
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
O amor lança fora o medo
Photo: Toshiko Okanoue "O amor lança fora o medo; mas, inversamente, o medo lança fora o amor. E não só o amor. O medo também expulsa a...
-
Enquanto eu vir o sol luzir nas folhas E sentir toda a brisa nos cabelos Não quererei mais nada. Que me pode o Destino co...
-
Li hoje quase duas páginas Do livro dum poeta místico, E ri como quem tem chorado muito. Os poetas místicos são filósofos doentes,...
-
nunca mais quero escrever numa língua voraz, porque já sei que não há entendimento, quero encontrar uma voz paupérrima, para nada atmos...
Gosto do poema ainda que discorde do tema: todos nós somos natureza e possuímos sensibilidades diversas... e o homem não é um rei na natureza, mas o seu mais destacado inimigo: vive dela e despreza-a. Depois...fala de ecologia para tentar remediar tudo o mais.
ResponderEliminarMas Caeiro era uma farsa de homem moderno... foi como tal que foi imaginado.
Desculpe o comentário. Não costumo fazê-lo, mas hoje deu-me para isto...
não serão os homens na sua grande maioria farsas e comédias de si próprios, no seu desprezo pela natureza e o próximo. a solidariedade e o respeito pelo outro não tem sido a nota dominante neste mundo. e daí, deverão ser assacadas responsabilidades à sensibilidade poética? susceptibilidade não se confunde com sensibilidade, na primeira o desprezo abunda. mas gostei do desabafo, e esse é sempre bem-vindo, sem censura...como é óbvio...
ResponderEliminarCaeiro é uma delícia de se ler. Olhar ímpar do encontro do homem com a Natureza, de forma fria, sem toda aquela metafísica. Ele fala de misticismo de diversas formas. Este texto está em "Guardados de Rebanhos", não? Abraços!
ResponderEliminarobrigado Diego, sim é o guardador de rebanhos...
Eliminar