sábado, 23 de dezembro de 2017
terça-feira, 5 de julho de 2016
Paisagem
Flor Garduño
Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.
Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.
Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.
Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.
Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
Sophia de Mello Breyner Andresen
segunda-feira, 13 de junho de 2016
A Little Closer to the Edge
Flor Garduño
Young enough to believe nothing
will change them, they step, hand-in-hand,
into the bomb crater. The night full
of black teeth. His faux Rolex, weeks
from shattering against her cheek, now dims
like a miniature moon behind her hair.
In this version the snake is headless — stilled
like a cord unraveled from the lovers’ ankles.
He lifts her white cotton skirt, revealing
another hour. His hand. His hands. The syllables
inside them. O father, O foreshadow, press
into her — as the field shreds itself
with cricket cries. Show me how ruin makes a home
out of hip bones. O mother,
O minutehand, teach me
how to hold a man the way thirst
holds water. Let every river envy
our mouths. Let every kiss hit the body
like a season. Where apples thunder
the earth with red hooves. & I am your son.
Ocean Vuong
sexta-feira, 20 de maio de 2016
Vulgaridade
Flor Garduno
Em todo o homem, nada é mais
existente e verídico que sua própria vulgaridade, fonte de tudo o que é
elementarmente vivo. Mas, por outro lado, quanto mais estabelecido se está na
vida, mais desprezível se é. Quem não espalha à sua volta uma vaga irradiação fúnebre,
e não deixa ao passar um rastro de melancolia vindo de mundos longínquos, esse
pertence à subzoologia e, mais especificamente, à história humana.
segunda-feira, 16 de maio de 2016
quinta-feira, 5 de maio de 2016
O mundo está dividido entre os que cagam bem e os que cagam mal.
Flor Garduño
"Florentino
Ariza se lembrou de uma frase que ouvira menino do médico da família, seu
padrinho, a propósito da sua prisão de ventre crônica: "O mundo está
dividido entre os que cagam bem e os que cagam mal." Sobre esse dogma o
médico elaborara toda uma teoria do caráter, que considerava mais certeira do
que a astrologia. Mas com as lições dos anos, Florentino Ariza a formulou de
outro modo: "O mundo está dividido entre os que trepam e os que não
trepam." Desconfiava dos últimos: quando saíam dos trilhos, era para eles
tão insólito que alardeavam o amor como se tivessem acabado de inventá-lo. Os
que o faziam amiúde, em compensação, viviam só para isso. Sentiam-se tão bem
que se comportavam como sepulcros lacrados, por saberem que da discrição
dependia sua vida. Nunca falavam de suas proezas, não confiavam em ninguém,
bancavam os distraídos até o ponto de ganharem fama de impotentes, de frígidos,
e sobretudo de maricas tímidos, como era o caso de Florentino Ariza. Mas se
compraziam no equívoco, porque o equívoco também os protegia. Eram uma loja
maçônica hermética, cujos sócios se reconheciam entre si no mundo inteiro, sem
necessidade de um idioma em comum. Daí o fato de Florentino Ariza não se
surpreender com a resposta da moça: era um dos seus, e portanto sabia que ele
sabia que ela sabia."
Trecho
de “O amor em tempos de cólera” – Gabriel Garcia Marquez
terça-feira, 3 de maio de 2016
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