(...)
“O
tédio... É talvez, no fundo, a insatisfação da alma íntima por
não lhe termos dado uma crença, a desolação da criança triste
que intimamente somos, por não lhe termos comprado o brinquedo
divino. É talvez a insegurança de quem precisa mão que o guie, e
não sente, no caminho negro da sensação profunda, mais que a noite
sem ruído de não poder pensar, a estrada sem nada de não saber
sentir...
O
tédio... Quem tem Deuses nunca tem tédio. O tédio é a falta de
uma mitologia. A quem não tem crenças, até a dúvida é
impossível, até o cepticismo não tem força para desconfiar. Sim,
o tédio é isso: a perda, pela alma, da sua capacidade de se iludir,
a falta, no pensamento, da escada inexistente por onde ele sobe
sólido à verdade.”
Bernardo
Soares