domingo, 22 de março de 2015

                                         na foto Charles Bukowski

Basta de verdades baratas.
Arrancai o ranço do coração!
As ruas são nossos pincéis
e paletas as nossas praças.
No livro do tempo
ainda não foram cantadas
as mil páginas da revolução.
Para a rua, futuristas,
tambores e poetas!

Vladimir Maiakóvski

sábado, 21 de março de 2015

confissão


esperando pela morte
como um gato
que vai pular
na cama
sinto muita pena de
minha mulher
ela vai ver este
corpo
rijo e
branco
vai sacudi-lo talvez
sacudi-lo de novo:
hank!
e hank não vai responder
não é minha morte que me
preocupa, é minha mulher
deixada sozinha com este monte
de coisa
nenhuma.
no entanto
eu quero que ela
saiba
que dormir todas as noites
a seu lado
e mesmo as
discussões mais banais
eram coisas
realmente esplêndidas
e as palavras
difíceis
que sempre tive medo de
dizer
podem agora ser ditas:
eu te
amo.


(Tradução: Jorge Wanderley)

Charles Bukowski

uma palavrinha sobre os fazedores de poemas rápidos e modernos




é muito fácil parecer moderno
enquanto se é o maior idiota jamais nascido;
eu sei; eu joguei fora um material horrível
mas não tão horrível como o que leio nas revistas;
eu tenho uma honestidade interior nascida de putas e hospitais
que não me deixará fingir que sou
uma coisa que não sou —
o que seria um duplo fracasso: o fracasso de uma pessoa
na poesia
e o fracasso de uma pessoa
na vida.
e quando você falha na poesia
você erra a vida,
e quando você falha na vida
você nunca nasceu
não importa o nome que sua mãe lhe deu.
as arquibancadas estão cheias de mortos
aclamando um vencedor
esperando um número que os carregue de volta
para a vida,
mas não é tão fácil assim—
tal como no poema
se você está morto
você podia também ser enterrado
e jogar fora a máquina de escrever
e parar de se enganar com
poemas cavalos mulheres a vida:
você está entulhando a saída — portanto saia logo
e desista das
poucas preciosas
páginas.


(Tradução: Jorge Wanderley)

Charles Bukowski

sábado, 7 de março de 2015

A Europa jaz


A Europa jaz, posta nos cotovelos: 
De Oriente a Ocidente jaz, fitando, 
E toldam-lhe românticos cabelos 
Olhos gregos, lembrando. 

O cotovelo esquerdo é recuado; 
O direito é em ângulo disposto. 
Aquele diz Itália onde é pousado; 
Este diz Inglaterra onde, afastado, 

A mão sustenta, em que se apoia o rosto. 
Fita, com olhar esfíngico e fatal, 
O Ocidente, futuro do passado. 

O rosto com que fita é Portugal. 

Fernando Pessoa

domingo, 1 de março de 2015

MANGAS VERDES COM SAL

                 CARLOS SERRA

Mangas verdes com sal
sabor longínquo, sabor acre
da infância a canivete repartida
no largo semicírculo da amizade.
Sabor lento, alegria reconstituída
no instante desprevenido,
na maré-baixa,
no minuto da suprema humilhação.
Sabor insinuante que retorna devagar
ao palato amargo,
à boca ardida,
à crista do tempo,
ao meio da vida.

Rui Knopfli

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Gosto desta ideia

Gosto desta ideia: que o amor é uma forma de conversação em que as palavras agem em vez de serem faladas.

D. H. Lawrence in O Amante de Lady Chatterley


domingo, 8 de fevereiro de 2015

O amor lança fora o medo

Photo: Toshiko Okanoue "O amor lança fora o medo; mas, inversamente, o medo lança fora o amor. E não só o amor. O medo também expulsa a...