sábado, 5 de outubro de 2013

Não tenho pressa: não a têm o sol e a lua.


                                    La robe du soir: rené magritte

Não tenho pressa: não a têm o sol e a lua.
Ninguém anda mais depressa do que as pernas que tem.
Se onde quero estar é longe, não estou lá num momento.
Sim: existo dentro do meu corpo.
Não trago o sol nem a lua na algibeira.
Não quero conquistar mundos porque dormi mal,
Nem almoçar o mundo por causa do estômago.
Indiferente?
Não: filho da terra, que se der um salto, está em falso,
Um momento no ar que não é para nós,
E só contente quando os pés lhe batem outra vez na terra,
Traz! na realidade que não falta!
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passe adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salte por cima da sombra.
Não; não tenho pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só aonde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E somos vadios do nosso corpo.
E estamos sempre fora dele porque estamos aqui.

Alberto Caeiro

1 comentário:

  1. Quantas vezes buscamos em nossas amizades
    uma palavra de carinho .
    E quantas vezes tem me faltado
    tempo para deixar o carinho que
    gostaria de receber.
    Hoje estou feliz por estar aqui
    para acarinhar sua alma.
    E dizer o quanto você
    é importante para mim.
    Estou deixando na postagem um mimo
    do dias das crianças.
    Não por achar que você ainda é
    uma criança.
    Mais sim a eterna criança que existe em cada um de nós.
    Um feliz e abençoado final de semana.
    Beijos ternos e carinhosos, Evanir.
    Será um prazer receber você no meu blog.

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