“Fonte
de perturbações, de transtornos ímpares, a loucura política afoga
a inteligência, favorece em contrapartida os instintos e mergulha-os
num caos salutar. A ideia do bem e sobretudo do mal que imaginamos
ser capazes de cumprir regozijar-nos-á e exaltar-nos-á; e o feito
das nossas enfermidades, o seu prodígio, será tal que elas nos
instituirão senhores de todos e de tudo.
À nossa
volta, observaremos uma alteração análoga naqueles que a mesma
paixão corrói. Enquanto sofrerem o seu império, serão
irreconhecíveis, presas de uma embriaguez diferente de todas as
outras. Tudo mudará neles, até o timbre da voz. A ambição é uma
droga que faz um demente em potência daquele que se lhe entrega.
Esses estigmas, esse ar de fera desvairada, essas linhas inquietas, e
como que animadas por um êxtase sórdido, quem não os tiver
observado nem em si próprio nem em outrem permanecerá estranho aos
malefícios e aos benefícios do Poder, inferno tónico, síntese de
veneno e de panaceia.”
Emil
Cioran, in História e Utopia
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