Michelangelo, (gravura), 1530
“O fatalismo colectivo é uma
crença em massa de que uma mudança significativa é impossível. Os indivíduos
outorgam as suas tomadas de decisões, na expectativa de que alguém vá fazê-las em
seu nome, com ou sem o seu consentimento. Isso leva a uma infantilização dos cidadãos,
que gozam a sua falta de poder e convertem-se em consumidores solitários, (…)
para os quais as compras (o consumo) são seu derradeiro e significativo acto de afirmação,
sinalizando um novo tédio que, na falta de alternativas, leva-nos ao fascismo.”
“O trabalho contemporâneo é
frenético e, no meio dele, raramente se vê os amigos. A tela do computador é a
janela pela qual um mundo sempre desperto e em alerta bombardeia os nossos neurónios com e-mails importantes, spams de Viagra, narcisismos, catástrofes contínuas e
pornô do it yourself. Essa mudança ontológica no status do ser humano é uma das razões essenciais para o profundo
sentimento do mal-estar e depressão que existe nos jovens adultos de hoje. Esse
modo de viver não é suficiente, e quando alguém não é mais capaz, ou escolhe
não se comportar como simples consumidor, ou interagir com o mundo por meio de
logotipos de publicidade ou aplicativos, a raiva e a frustração crescem.”
“A vida está mais
difícil, empobrecida, deprimente e monótona. Isto não é inevitável, e
certamente não deveria ser aceitável — mesmo que muitos continuem a ceder ao
aspecto sombrio da existência quotidiana, por falta de alternativas credíveis.”
“O poder não pode desaparecer,
mas ele pode ser neutralizado quando se difunde entre uma massa igualitária de agentes
democráticos o reconhecimento da regra do colectivo, não do individualismo. O
capitalismo pode ser desfeito. Isso levar-nos-á a uma perturbação da vida social
que temos e, inicialmente, a um período de conflitos sociais profundos, mas a
história das sociedades humanas demonstra que as culturas não são, em essência,
nem “boas” nem “más”, como afirmam muitos dos críticos morais e defensores do
capitalismo. O certo é que as pessoas gostam mais de diálogos, da amizade e da generosidade do que do consumo e do trabalho.”
“O optimismo não pode significar a construção colectiva de
mentiras convenientes, para tornar as pessoas infelizes mais capazes de
enfrentar os seus infortúnios. Ao invés disso, ele articula a criatividade
necessária para ir além dos meios hoje existentes e envolver-se num patamar de
actividade novo e desconhecido. O optimismo é criativo… O pessimismo é
reaccionário… Sua incapacidade de dar conta da natureza violenta do desejo,
tanto cultural quanto biológico, o conduz a uma submissão cínica. O neoliberalismo
é um sistema poderoso deste tipo.”
J. D.
Taylor, Negative Capitalism: Cynicism in the Neoliberal Era
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