segunda-feira, 3 de julho de 2023

Amor nos Tempos de Cólera


.        Toshiko Okanoue

 "A suposição de que a plenitude emocional depende inexoravelmente da presença de uma parceria amorosa é, em si mesma, uma ilusão sedutora, alimentada por convenções sociais e narrativas populares. Sob essa perspectiva, há uma tentação irresistível de buscar fora de si mesmo a fonte última de contentamento, depositando nas mãos de outro ser humano a chave para a felicidade. Contudo, essa visão, por mais persuasiva que possa parecer, está fadada ao desencanto e à insatisfação.

A felicidade genuína não pode ser concebida como uma mercadoria pronta para ser adquirida, tampouco como uma entidade externa a ser encontrada e conquistada. Ela é um estado interno que se desenvolve a partir da compreensão e do cultivo de um profundo amor-próprio e autenticidade. É na descoberta de quem somos, na aceitação de nossas virtudes e imperfeições, que encontramos as bases sólidas para a felicidade duradoura.

Ao transferir a responsabilidade por nosso bem-estar a um relacionamento romântico, incorremos em uma armadilha emocional. Colocamos expectativas desmedidas sobre o outro, sobrecarregando-o com o fardo de suprir todas as nossas necessidades afetivas. No entanto, é uma ilusão imaginar que uma única pessoa possa satisfazer todas as dimensões de nossa existência.

Ademais, devemos considerar que a busca frenética por um parceiro pode levar à desvalorização da individualidade, à submissão a normas sociais obsoletas e à renúncia de nossos próprios desejos e aspirações. Ao nos ancorarmos em relacionamentos como única fonte de alegria, corremos o risco de negligenciar nossos próprios interesses e necessidades, tornando-nos reféns da vontade alheia.

Nesse sentido, é crucial cultivar uma compreensão madura do amor e da felicidade, reconhecendo que a plenitude não é alcançada através da dependência emocional, mas sim da interdependência saudável. Os relacionamentos amorosos, quando baseados em reciprocidade, respeito mútuo e apoio mútuo, podem ampliar nossas experiências e trazer uma satisfação adicional. No entanto, eles nunca devem ser vistos como o único caminho para a realização pessoal."

Gabriel García Márquez

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