(excerto)
Cena do Ódio - Foi escrito por Almada Negreiros durante os três dias e as três noites que durou a revolução de 14 de Maio de 1915 - A Álvaro de Campos a dedicação intensa de todos os meus avatares.
Cena do Ódio - Foi escrito por Almada Negreiros durante os três dias e as três noites que durou a revolução de 14 de Maio de 1915 - A Álvaro de Campos a dedicação intensa de todos os meus avatares.
(...)
Tu que descobriste o cabo da
Boa-Esperança
e o Caminho-Marítimo da Índia
e as duas Grandes Américas,
e que levaste a chatice a
estas terras
e que trouxeste de lá
mais Chatos pr’aqui
e qu'inda por cima cantaste
estes Feitos...
(...)
Tu,
que tens a mania das Invenções e das Descobertas
e
que nunca descobriste que eras bruto,
e
que nunca inventaste a maneira de o não seres
(...)
Eu
queria gostar das revistas e das coisas que não prestam
porque são muitas mais que as boas
e enche-se o tempo mais!
Eu queria, como tu, sentir o bem-estar
que te dá a bestialidade!
Eu queria, como tu, viver enganado da vida e da mulher,
e sem o prazer de seres inteligente pessoalmente!
porque são muitas mais que as boas
e enche-se o tempo mais!
Eu queria, como tu, sentir o bem-estar
que te dá a bestialidade!
Eu queria, como tu, viver enganado da vida e da mulher,
e sem o prazer de seres inteligente pessoalmente!
(...)
Olha
para ti!
Se te não vês, concentra-te, procura-te!
Encontrarás primeiro o alfinete
que espetaste na dobra do casaco,
e depois não percas o sítio,
porque estás decerto ao pé do alfinete.
Espeta-te nele pra não te perderes de novo,
e agora observa-te!
Não te escarneças! Acomoda-te em sentido!
Não te odeies ainda qu' inda agora começaste!
Se te não vês, concentra-te, procura-te!
Encontrarás primeiro o alfinete
que espetaste na dobra do casaco,
e depois não percas o sítio,
porque estás decerto ao pé do alfinete.
Espeta-te nele pra não te perderes de novo,
e agora observa-te!
Não te escarneças! Acomoda-te em sentido!
Não te odeies ainda qu' inda agora começaste!
(...)
Tu não sabes, meu bruto, que
nós vivemos tão pouco
que ficamos sempre a
meio-caminho do Desejo?
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