"É
preciso repensar a nossa vida. Repensar a cafeteira do café, de que
nos servimos de manhã, e repensar uma grande parte do nosso lugar no
universo. Talvez isso tenha a ver com a posição do escritor, que é
uma posição universal, no lugar de Deus, acima da condição
humana, a nomear as coisas para que elas existam. Para que elas
possam existir… Isto tem a ver com o poeta, sobretudo, que é um
demiurgo. Ou tem esse lado. Numa forma simples, essa maneira de
redimensionar o mundo passa por um aspecto muito profundo, que não
tem nada a ver com aquilo que existe à flor da pele. Tem a ver com
uma experiência radical do mundo.
Por exemplo, com aquela que eu faço de vez em quando, que é passar três dias como se fosse cego. Por mais atento que se seja, há sempre coisas que nos escapam e que só podemos conhecer de outra maneira, através dos outros sentidos, que estão menos treinados… Reconhecer a casa através de outros sentidos, como o tacto, por exemplo. Isso é outra dimensão, dá outra profundidade. E a casa é sempre o centro e o sentido do mundo. A partir daí, da casa, percebe-se tudo. Tudo. O mundo todo."
Por exemplo, com aquela que eu faço de vez em quando, que é passar três dias como se fosse cego. Por mais atento que se seja, há sempre coisas que nos escapam e que só podemos conhecer de outra maneira, através dos outros sentidos, que estão menos treinados… Reconhecer a casa através de outros sentidos, como o tacto, por exemplo. Isso é outra dimensão, dá outra profundidade. E a casa é sempre o centro e o sentido do mundo. A partir daí, da casa, percebe-se tudo. Tudo. O mundo todo."
Al Berto
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