Domingo de manhã fui com a
Amada para a praia nos rochedos junto do mar vi pela primeira vez o seu corpo
nu feito espuma e onda. Ficámos calados (como quem está só) escondidos de todos
à beira-água (como quem ama, apetecendo-a como os suicidas), o seu corpo
cheirava a maresia (cheiraria?). Numa doidice de beijos e carícias leves beijei
seus pés de espuma macia… em lírica, diria: pés de sereia; em realística,
diria: pés de virgem (feia); em novelística, da antiga, diria: pés de deusa
brinca-brincando na areia; em novelística, novíssima: patitas catitas de
centopeia…, beijei seus pés; por ali mesmo a comecei a beijar. Caprichos de
libertino: o corpo da Amada ficou lá nos rochedos à beira-água onda infatigável
desfeito liquefeito brisa de maresia pairando no bafo quente do ar e eu guardo
no meu quarto na minha colecção mais um sexo de donzela conservado em álcool e
memória, numa mistura fácil de três por dois, tintos.
[…]
Luiz Pacheco
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