Robert & Shana ParkeHarrison
Entre nós e as palavras há
metal fundente
entre nós e as palavras há
hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos
tirar
do mais fundo de nós o mais
útil segredo
entre nós e as palavras há
perfis ardentes
espaços cheios de gente de
costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e
crianças sentadas
à espera do seu tempo e do
seu precipício
Ao longo da muralha que
habitamos
há palavras de vida há
palavras de morte
há palavras imensas, que
esperam por nós
e outras, frágeis, que
deixaram de esperar
há palavras acesas como
barcos
e há palavras homens,
palavras que guardam
o seu segredo e a sua
posição
Entre nós e as palavras,
surdamente,
as mãos e as paredes de
Elsenor
E há palavras nocturnas palavras
gemidos
palavras que nos sobem
ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras
nunca escritas
palavras impossíveis de
escrever
por não termos connosco
cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo
nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes
escrevem muito alto
muito além do azul onde
oxidados morrem
palavras maternais só sombra
só soluço
só espasmo só amor só
solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os
emparedados
e entre nós e as palavras, o
nosso dever falar
Mário Cesariny
Sem comentários:
Enviar um comentário