Nasceu em 1909 em Bonsko (Bulgária). A sua profissão de mecânico permitiu-lhe o contacto com as
miseráveis condições de trabalho nas fábricas.Filiou-se no Partido Comunista em 1934 e foi um activo resistente antifascista. Foi preso em Março de 1942. Em 23 de Julho de 1942 foi condenado à morte e
abatido na mesma noite, juntamente com 11 outros homens, por um pelotão de
fuzilamento alemão. Apesar de nunca ter publicado nenhum livro em vida, é considerado um dos mais
importantes poetas búlgaros.
A 3 de Dezembro de 1953, recebeu postumamente o Prémio Internacional da
Paz. Uma selecção da sua poesia foi publicada em livro, em 1954, em Londres e a sua
poesia já foi traduzida para 98 línguas.
O famoso poeta espanhol Federico
García Lorca recita o seu último poema, mesmo antes da sua execução, durante a
guerra civil de Espanha em Agosto de 1936, por um pelotão de fuzilamento
fascista.
“Mariana,
Que é o homem
sem liberdade?
Sem essa luz
harmoniosa e fixa que se sente por dentro?
Como poderia
te querer não sendo livre, diz-me?
Como te dar
este firme coração se não é meu? Não temas;
Como te dar
este firme coração, se não é meu?”
Mariana Pineda
foi escrita em 1925. Ela e Federico viveram em épocas onde se produziam grandes
mudanças. Ambos amaram Granada e nela viveram, onde acabaram por morrer, inocentes e executados
pela ditadura de franco.
Os que trabalham têm medo de perder o trabalho, os que não trabalham têm medo de nunca encontrar o trabalho.
Quem não tem medo da fome tem medo da comida. Os automobilistas têm medo de caminhar e os pedestres têm medo de ser atropelados. A democracia tem medo de recordar e a linguagem tem medo de dizer. Os civis têm medo dos militares e os militares têm medo da falta de armas. As armas têm medo da falta de guerras. Medo da mulher à violência do homem, medo do homem das mulheres sem medo. Medo dos ladrões, medo da polícia. Medo da porta sem fechadura, do tempo sem relógio, das crianças sem televisão. Medo da noite sem comprimidos para dormir, medo de dia sem comprimidos para acordar. Medo da multidão, medo da solidão. Medo do que foi e do que pode ser. Medo de morrer, medo de viver.
a
última bilha de gás durou dois meses e três dias,
com o gás
dos últimos dias podia ter-me suicidado, mas eis que se foram os
três dias e estou aqui e só tenho a dizer que não sei como
arranjar dinheiro para outra
[bilha, se
vendessem o gás a retalho comprava apenas o gás da morte, e
mesmo assim tinha de comprá-lo fiado, não sei o que vai ser da
minha vida, tão cara, Deus meu, que está a morte, porque já
me não fiam nada onde comprava tudo, mesmo coisas rápidas, se
eu fosse judeu e se com um pouco de jeito isto por aqui acabasse
[nazi, já
seria mais fácil, como diria o outro: a minha vida longa por
muito pouco, uma bilha de gás, a minha vida quotidiana e a
eternidade que já ouvi dizer que a [habita
e move,
não
me queixo de nada no mundo senão do preço das bilhas de gás, ou
então de já mas não venderem fiado e a pagar um dia a conta
toda por junto: corpo e alma e bilhas de gás na eternidade - e
dizem-me que há tanto gás por esse mundo fora, países inteiros
cheios de gás por baixo!
porque já sei que não há
entendimento, quero encontrar uma voz paupérrima,para
nada atmosférico de mim mesmo: um aceno de mão rasa abaixo
do motor da cabeça, tanto
a noite caminhando quanto a manhã que irrompe, uma
e outra só acham a
poeira do mundo: antes
fosse a montanha ou o abismo — estou
farto de tanto vazio à volta de nada, porque
não é língua onde se morra, esta
cabeça não é minha, dizia o amigo do amigo, que me disse, esta
morte não me pertence, este
mundo não é o outro mundo que a outra cabeça urdia como
se urdem os subúrbios do inferno num
poema rápido tão rápido que não doa e
passa-se numa sala com livros, flores e tudo, e
não é justo, merda! quero
criar uma língua tão restrita que só eu saiba, e
falar nela de tudo o que não faz sentido nem
se pode traduzir no pânico de outras línguas, e
estes livros, estas flores, quem me dera tocá-las numa vertigem como
quem fabrica uma festa, um teorema, um absurdo, ah!
um poema feito sobretudo de fogo forte e silêncio