(...)
O convencimento da futilidade de toda a terapêutica para a alma
deveria, por certo, erguer-me a um píncaro de indiferença, entre o qual e
as agitações da terra velassem tudo as nuvens daquele mesmo
convencimento. O pensamento, porém, poderoso como é, nada pode contra a
rebeldia da emoção. Não podemos não sentir, como podemos não andar.
Assim assisto, e assisti sempre, desde que me lembro de sentir com as
emoções mais nobres, à dor, à injustiça e à miséria que há no mundo do
mesmo modo que assistiria um paralítico ao afogamento de um homem que
ninguém ainda que válido, poderia salvar. A dor alheia tornou-se em mim
mais do que uma só dor - a de a ver, a de a ver
irreparável, e a de saber que o conhecê-la irreparável me empobrece até
da nobreza inútil de querer ter os gestos de a reparar. A minha falta de
impulso foi sempre, afinal, a fonte da origem destes males todos - o não saber querer antes de pensar, o não saber entregar-me, o não saber decidir do único modo como se decide - com a decisão, que não com o conhecimento -,
burro de Buridan morrendo na bissectriz matemática da água da emoção e
da palha do esforço, podendo, se não pensasse, morrer sim, porém não de
fome nem de sede.
(...) Barão de Teive